quarta-feira, 16 de março de 2016

O maior erro de todos

Foto: Shutterstock
O propósito deste espaço tem sido o de corrigir e explicar erros gramaticais comummente usados em português. Tentamos fazê-lo de uma forma relativamente simples e recorremos a publicações e autores credenciados sempre que necessário. Pois hoje, o post será um pouco diferente.

Hoje vou falar sobre o maior erro de todos. É um erro comum a muitas línguas e a muitas culturas. O português e os países que têm o português como língua oficial não são exceção. É um erro transversal aos mais jovens, ainda em idade escolar, aos adultos que estão no mercado de trabalho, aos estabelecimentos de ensino, aos governos responsáveis pelos programas de ensino.

E é um erro crasso, mas muito simples: não valorizar a língua e a gramática. As noções mais básicas de gramática são ensinadas logo na primária, mas rapidamente são abandonadas antes que sejam aprofundadas.

Questões como as funções sintáticas (o sujeito, o predicado, os objetos) ou as classes de palavras (nomes, adjetivos, advérbios, preposições) são deixadas ao abandono pelo ensino e pelo pouco interesse das crianças nesta matéria. Em vez disso, opta-se por focar todo o ensino posterior em obras literárias. Obviamente que este é um trabalho importantíssimo também, porque representa a cultura da língua. Mas não ensina necessariamente um jovem a falar nem a escrever bem.

Nas universidades, não há formação nesse sentido, a menos que se vá para um curso de linguística. Mas então? Os engenheiros não têm de escrever manuais, propostas, orçamentos? Os professores não têm de dar aulas, escrever sumários? Os CEOs de grandes empresas não têm de apresentar relatórios e contas a cada trimestre? Os alunos universitários não têm de escrever testes, trabalhos, apresentações? Os jovens acabados de entrar no mercado de trabalho não têm de escrever cartas de apresentação em candidaturas de emprego?

A verdade é tão simples quanto esta: os erros gramaticais (os mais simples, pelo menos) são fáceis de detectar por toda a gente, porque há um conhecimento interiorizado da língua. Isto é, há coisas que soam mais ou menos bem. Mas quando somos nós a fazer uso da língua, convém que saibamos o que estamos a fazer, porque falar e escrever de forma errada pode perfeitamente arruinar a nossa reputação enquanto profissionais. 


Se uma pessoa não sabe articular uma frase numa candidatura a um emprego, será que o empregador o vai escolher? Certamente que não, mesmo que não se trate de um emprego relacionado com o uso da língua. Porque o uso correto da língua é uma questão de credibilidade - uma credibilidade das mais básicas - de um profissional.

O mesmo se passa com um profissional que escreve um documento da empresa que esteja repleto de erros. Que credibilidade lhe vão dar? Nenhuma, mesmo que o conteúdo técnico esteja todo lá.

Às vezes, é até uma forma de associarmos inteligência a uma certa pessoa. Claro que não é apenas o uso correto da língua que nos faz ser mais ou menos inteligentes, mas quantas vezes não encontraram comentários do tipo "Vai aprender a falar!" ou "Volta para a escola!" em resposta a declarações com erros gramaticais diversos! Quantas vezes já não vimos as pessoas a atentarem contra a inteligência de outra que tenha escrito uma data de erros?

Ainda assim, estas questões linguísticas são tidas como "chatas", pouco apetecíveis e desinteressantes por muita gente. Mas quando é que essas pessoas estudaram a língua? Quando tinham 6, 7, 8 anos. Do que se lembram? De pouco. Então como sabem que é "chato" e desinteressante? Há quem ache mais gira a matemática. Pois bem, a linguística tem algo de matemático. Dentro das humanidades, é a ciência mais exata (quiçá a única, até). Também tem algo de lógica (outro ponto em comum com a matemática). E, para quem não sabe e desconfia que isto realmente não tem interesse algum, fiquem a saber: é bastante engraçado vermos como conseguimos aprender a desconstruir a forma como falamos, pois ficamos a perceber de onde é que isto tudo vem.

Além disso, no ensino, há sempre disciplinas que temos de saber ultrapassar para concluir um dado ciclo de estudos, não há? E se isso nos beneficiar no futuro, por que não?


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